O que é Forró?
Sanfona, zabumba e triângulo! Isso é Forró! Mas isso não é tudo!
Forró é a música do povo, feita pelo povo e para o povo, é música para celebração, devoção, diversão, comunhão e luta. É uma música que ultrapassa a barreira do tempo. O forró está vivo, assim como as pessoas que o fazem. Eu gosto de dizer que o Forró era e continua a ser. O forró não está pronto, acabado, da mesma forma que as pessoas ainda não estão.
Por esta razão, quando se fala em Forró é importante fazer cortes espaciais, temporais, sociopolíticos e até mesmo ético-filosóficos. O forró conquistou o mundo, deixou um lugar pequeno, mas grande, o sertão nordestino do Brasil, para o resto do continente brasileiro, inegavelmente liderado por Luiz Gonzaga. Ele mostrou ao país como a musicalidade rural do Nordeste carregava um enorme conhecimento musical, mas não apenas isso. Luiz Gonzaga mostrou ao Brasil o conhecimento do povo (neste caso o povo do Nordeste do Brasil, do sertão) e também se pode dizer que ele só organizou o festival, um reencontro do povo consigo mesmo. Embora para organizar essa reunião ele teve que superar barreiras sociais e culturais, carregadas de preconceitos, xenofobia, racismo e muitos outros males de uma nação que se baseava na exploração e na desigualdade.
Mas ele o fez! Ele trouxe a música rural do Nordeste (que nem sempre foi chamada de Forró) ao grande público de rádios e televisões, sempre ansioso por novidades e coisas “exóticas”. Entretanto, foi viajando pelo interior do Brasil de carro, caminhonete e caminhão, em constantes encontros com as pessoas das pequenas cidades que Luiz manteve vivo o Forró, quando a grande mídia já estava encontrando outras novidades para entreter seu público.
Para isso, como diz em suas canções, levava em seu matulão (uma espécie de bolsa ou mala de couro) um zabumba, um triângulo e um acordeão, os instrumentos que escolheu para executar sua música tradicional, para apresentar ao público sua musicalidade, polida em festas e celebrações rurais, do interior, nordestino. Luiz não apenas apresentou música através de sua pessoa, sua voz e suas histórias, ele revelou ao seu público um cenário cultural e até paisagens que ganharam vida através de sua voz.
Escrito por Fernando Corrêa.
Como Luiz Gonzaga utilizava principalmente esses três instrumentos, o trio Pé de Serra se consolidou, mas sabe-se que nos “pés-de-serra” e outras partes do Nordeste, as festas e forrós aconteciam com uma grande variedade de instrumentos, como pandeiro, ganzá, melê, reco-reco, rabeca, cavaquinho, viola, violão, pifes, harmônicas e praticamente qualquer instrumento que as pessoas que dançavam ali pudessem tocar. Vale ressaltar que o acordeão de 8 graves, o famoso Pé de Bode, teve lugar de destaque nos festivais do sertão nordestino muito antes do forró ser conhecido.
Tanto que, durante a sua “industrialização” nos anos 50, o Baião do Rei não fez barulho e abraçou outros instrumentos nas suas gravações, tanto pelo Gonzagão como pelos seus sucessores, Jackson do Pandeiro, Ary Lobo, Marinês, Clemilda, Anastacia, Dominginhos, e tantos outros.
Para os ouvintes mais atentos não é difícil perceber que durante as décadas dos anos 50 a 80 (pelo menos), embora as composições e instrumentos utilizados nas gravações e shows de forró tivessem de alguma forma mudado e se “modernizado”, havia uma coesão na forma como essa música era tocada e cantada, possivelmente devido ao contexto cultural mais ou menos coeso dos artistas envolvidos, geralmente nordestinos, com uma história de vida no meio rural, seja como trabalhadores rurais ou como recém-chegados à metrópole, mas ainda imersos numa cultura com uma identidade rural muito forte.
Mas o Forró conquistou o Brasil e, sem sair do campo, instalou-se também nas grandes cidades, e a partir da década de 90, principalmente, o Forró ganhou outros sotaques, outros toques, tanto no Nordeste, com o chamado “Forró Eletrônico”, quanto no Sudeste, com o “Forró Universitário”. Algumas pessoas pensam que estes sotaques de alguma forma descaracterizam o Forró “autêntico”.
É uma discussão muito intrigante e longe de terminar, mas é interessante pensar que o Forró tem suas raízes e seu conhecimento, tem também as pessoas que o fizeram e ainda o fazem, com seus significados muito próximos do que foi feito no passado.
É necessário considerar os poderes envolvidos nas relações humanas, principalmente entre diferentes estratos sociais, para que não haja uma obliteração cultural de uma grande camada da população brasileira, em favor de uma indústria cultural que tenha lucro, mas que não se preocupe em retribuir nada aos artistas populares ou às suas comunidades.
Comunidades formadas pelos cowboys, as carpideiras, os agricultores e artistas populares que, com suas novenas, farinhadas, multirões, adjuntórios, tapas de casa e outras obras e celebrações rurais, fundaram a musicalidade nordestina que culminou com o Forró. Com o Forró agora espalhado pelo Brasil e pelo mundo, existem composições de Forró com influências do Rock, Reggae, Salsa e muitas outras. As composições de forró já existem em francês, alemão, russo, inglês, japonês e outros idiomas. Como esses sotaques diferentes se conectam com o Forró ainda é muito cedo para dizer, mas uma coisa é certa:
Forró está sendo!