Por Sonja Graf, extrato das actas da conferência do 31.º Simpósio de Etnocoreologia do Conselho Internacional de Música Tradicional, 2021.

(do ForróLetters #5)

A partir de 1875, o “forró” ou “forrobodó” era um termo usado para se referir a uma festa promovida pela classe trabalhadora após um longo dia de trabalho no Sertão, a região árida do Nordeste do Brasil (1). Estes encontros festivos eram também designados por “sambas de pé-de-serra” ou “sambas” (2). Acredita-se que a origem do termo forró venha de uma palavra bantu “forrobodó”, que foi trazida para o Brasil durante o tráfico de escravos e significava

“‘bagunça’ ou ‘confusão’, circunstâncias bem adequadas a essas danças folclóricas do interior nordestino no século XIX… as reuniões misturavam estilos musicais variados… Nessas festas havia música ao vivo e dança, gente de todas as idades, casados, solteiros, crianças, adultos, jovens e velhos. As pessoas dançavam sozinhas ou em pares”. (3)

Os forrós consistiam em música ao vivo, comida, bebida e dança, e realizavam-se frequentemente em casa de alguém como ocasião de união ou para actividades comunitárias, como a colheita ou a construção de uma casa, em que a comunidade partilhava o trabalho e, depois, dançava no chão de terra batida para o pressionar (4). O forró também está associado às festas juninas, comemorações que acontecem em junho, homenageando o São João.

No final do século XIX, muitos nordestinos migraram para as grandes cidades do sul do Brasil, principalmente São Paulo e Rio de Janeiro, devido às duras condições de vida no Sertão. As suas músicas e danças viajaram com eles e começaram a surgir no sul “casas de forró” onde os nordestinos podiam ouvir música, comer alimentos e partilhar danças da sua região natal (5).

No final dos anos 80, o forró ganhou reconhecimento entre os estudantes universitários do sul do país e, como resultado, surgiu o estilo “forró universitário”: a música de forró começou a assumir influências modernas de outros géneros como o Rock`n Roll, Samba, Funk e Reggae (6) e os dançarinos começaram a incorporar movimentos de outras formas de dança, nomeadamente integrando giros e figuras de braços do samba rock (7), bem como a proximidade física íntima da lambada e da salsa (8).

No início dos anos 2000, o forró começou a ganhar popularidade na Europa e, em 2008, realizou-se o primeiro festival internacional de forró em Estugarda, organizado por Terra Pasqualini. Foi assim que surgiu o pequeno mas crescente movimento de festivais internacionais de forró, maratonas e outros encontros de forró e, atualmente, o forró pode ser encontrado em quase todas as grandes cidades do continente europeu, incluindo locais como Helsínquia, Atenas e até Novosibirsk!

Referências

1 [De Quadros Junior e Volp 2009; Fernandes 2005]

2 [Marcelo and Rodrigues 2012:18]

3 [Dias e Dupan 2017, p.9]

4 [Fernandes 2005]

5 [ibid .]

6 [De Quadros Junior and Volp 2009]

7 [ibid .]

8 [Fernandes 2005]

De Quadros Junior; Fontes; Dias; Volp. 2009. “Caracterização do Xote e do Baião dançados no Estado de São Paulo”. Movimento 15(3): 233-47, São Paulo.
De Quadros Junior; Volp. 2005. “Forró Universitário: a tradução do forró nordestino no sudeste brasileiro. “Departamento de Educação Física UNESP 3(4): 127- 130, São Paulo.
Dias; Dupan. 2017. “O que é Forró? Uma Introdução à História do Forró”. Forró em Vinil. Universidade Estadual da Paraíba.
Fernandes 2005. Música, Migrância e Modernidade: A Study of Brazilian Forró, tese não publicada (Ph.D). Universidade Federal de Uberlândia e Universidade Estadual de Campinas.
Marcelo; Rodrigues 2012. O Fole Roncou!!! Uma História do Forro. Zahar, Rio de Janeiro.