De estudante a professor: Como nasceu a Comunidade de Nantes

– Uma entrevista com Fredão (Frederic Binyom)

(do ForróLetters #2)

Nos últimos sete anos, o forró Nantes oferece dois cursos, iniciante e intermediário, além de oficinas, shows e festas. Atualmente, há 50 alunos a frequentar as aulas e cerca de uma centena de bailarinos regulares que vêm às festas.

Fredão, como é que a sua experiência como estudante o ajudou a tornar-se professor?

Comecei a dançar forró depois de muitos anos de dança de salsa. Desde as primeiras notas de música, foi amor à primeira escuta, do ponto de vista da música, da dança e da cultura.
Sempre com vontade de aprender, para me divertir ainda mais, tive aulas em Paris com Marion Lima e acabei por me tornar membro da “Compagnie du P’tit Bal Perdu”, um grupo que desenvolve coreografias e realiza espectáculos. Muito à vontade como estudante, membro de longa data do grupo e amigo de todos, pude ajudar ou mesmo substituir a Marion quando necessário.

Como é que se tornou professor de forró?

Deixei Paris com o meu parceiro Valou (um forrozeiro) para me mudar para Nantes, onde o forró era quase inexistente, sem aulas estruturadas. No entanto, eu era conhecido em Nantes como dançarino de forró, tendo tido a oportunidade de dar um workshop para principiantes lá anteriormente, e fui muito rapidamente convidado a dar aulas por uma associação de dança.

Isto trouxe uma grande mudança, muita reflexão e muitas dúvidas. A ideia de passar de aluna, onde era apenas uma dançarina experiente que dava conselhos, a cúmplice, a que fazia piadas nas aulas, para professora, de quem se espera que crie e dê aulas semanais e profissionais e que ajude os alunos a progredir, aterrorizava-me. Não era de todo o que eu queria e, no início, senti-me muito desconfortável com o pedido.

Por outro lado, estava consciente de que, se quisesse continuar a desfrutar e a partilhar a minha paixão, teria de dedicar o meu tempo, a minha energia e, por conseguinte, investir na formação de professores. Teria sido fácil dançar apenas com o meu parceiro, mas foi melhor criar uma comunidade de dançarinos.

Como é que é ser professor?

É muito trabalho, pressão e reflexão, uma vez que a minha perspetiva da dança e do bailarino mudou. Como professores, estamos sozinhos. Sou o único organizador e professor em Nantes e o único perante os meus alunos, que sinto terem muitas expectativas. Mas… Foi uma grande experiência e, desde há sete anos, com o Forró Nantes, gosto de dançar, de ver dançarinos a divertirem-se, a progredirem e a partilharem a mesma paixão que eu, também com o desejo de a transmitirem. Dançar forró é uma ótima desculpa para se divertir e estar junto.

Algum conselho para quem quer ser professor?

Deve estar preparado e consciente de que terá de dar muito. Requer esforço, tempo, energia, paciência e empenhamento. É necessário aceitar que nem sempre terá as respostas, mas que terá de as encontrar. Tenha consciência de que recebe pouco em troca – esta não é a principal razão para ser professor – mas o que recebe em troca é tão agradável que vale a pena. E sabe tão bem partilhar, que só se pode gostar de ser professor. Também é preciso gostar das pessoas para as apoiar. É uma experiência fantástica em que se aprende todos os dias e que nos permite questionarmo-nos constantemente, como professores e também como pessoas.

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